ESG se tornou tema recorrente no ambiente de negócios e não é por acaso. Essas três letras significam, em língua inglesa, Environmental, Social and Governance e, em língua portuguesa, ASG: ambiental, social e governança. Elas orientam diretrizes para negócios com responsabilidade ambiental, social e governança responsável e diversa.
No entanto, é importante lembrar que as agendas ESG são parte de um projeto mais amplo: a sustentabilidade. É preciso esclarecer que uma não substitui a outra, mas, juntas, elas tracionam a busca por um mundo melhor, capaz de aliar desenvolvimento sustentável e crescimento econômico.
A agenda de sustentabilidade atual e de impacto global é a Agenda 2030, também conhecida como Acordo de Paris, e busca o compromisso de stakeholders para diminuir os gases de efeito estufa em até 2º graus centígrados. Ela traz os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que são pautados no legado dos Objetivos do Milênio (ODM – 2000 a 2015) e seguem abaixo:
Tais objetivos buscam uma mobilização global para acabar com a pobreza, cuidar do meio ambiente e do clima, garantir que pessoas em qualquer lugar do planeta possam ter paz e prosperidade. A Agenda 2030 é ambiciosa e indica que 2030 é a meta para se cumprir esses apontamentos e, com a adição das diretrizes ESG, ela ganha força e aliados potentes.
As diretrizes ESG se destacaram a partir de 2019, quando grandes empresários consideraram esses atributos como importantes para a tomada de decisões em seus negócios. A carta de Larry Fink, CEO da Black Rock, aos CEOs de grandes empresas redefine e reestrutura o mercado financeiro. Ao liderar uma grande empresa, que gerencia mais de 6,7 trilhões de dólares em ativos, Fink traz potência para a mudança, dizendo que só irá investir em negócios que atendam às premissas ESG e, além disso, irá desinvestir em negócios que não respeitem esse critério, impulsionando e influenciando todo o mercado a seguir essas diretrizes. A carta soou como um alarmante “toque de despertar” ao mercado global, pois, naquele momento, já estavam em discussão a urgência de efetiva ação para as duas grandes bandeiras críticas globais: a desigualdade social e as alterações climáticas (FINK, 2022).
Os investimentos com foco nas diretrizes ESG atraíram diferentes setores que buscam fazer essa transição para economias mais verdes e de baixo carbono. A agenda ESG indica que o negócio deve estar alinhado não somente pelos critérios usuais do mercado mas também por atributos ambientais, sociais e de governança corporativa responsável. Muitos indicam que essas diretrizes estão no cerne do capitalismo de stakeholders, e todos os afetados pelos negócios devem ser considerados na tomada de decisão, analisando os impactos positivos e negativos.
As diretrizes ESG vão além do discurso, são uma opção para negócios que querem atrair investidores, consumidores e força de trabalho atentos a essa agenda. É claro que há desafios e ainda há paradigmas que colocam as diretrizes ESG como algo difícil de ser alcançado. As seguintes argumentações são frequentes nesses casos: é caro, não há profissionais para aplicar essas diretrizes, depende do tamanho da empresa ou negócio, não traz o retorno para o investimento a curto prazo… No entanto, nem todos pensam dessa maneira e já obtêm bons resultados advindos das ações ESG em seus negócios.
Para colocar a agenda ESG em ação, é preciso audácia, coragem e inovação, uma vez que não é possível fazer negócios como era feito antes. É preciso fazer a transição de um modelo linear para um modelo circular ou regenerativo, tendo o compromisso e a responsabilidade por tudo que “deixa” para trás nos espaços em que ocupa.
As organizações são demandadas para um processo de construção ética, buscando operar com decência nas sociedades onde atuam e, por meio da confiança, estabelecer um relacionamento honesto, transparente e virtuoso, demonstrando serem marcas de “caráter” e de impacto positivo para todos.
GESTÃO ESTRATÉGICA ESG
- Inserção na filosofia dos negócios: missão, visão e valores.
- Inclusão da agenda ESG no planejamento estratégico, de modo transversal.
- Definir as prioridades dos negócios e as prioridades na agenda ESG.
- Estabelecer objetivos, metas, resultados de curto, médio e longo prazo, contemplando público interno e externo.
- Promover o apoio efetivo dos líderes da organização para a agenda ESG.
- Comunicar as diretrizes e ações relativas à agenda ESG para público interno e externo.
- Promover treinamentos constantes para público interno e externo.
- Acompanhar e monitorar as ações e os resultados da agenda e redefinir rotas se necessário.
- Estimular a consolidação de uma cultura organizacional voltada para ESG.
- Ser influenciador e disseminar as boas práticas no mercado onde atua.
- Publicar relatório de sustentabilidade seguindo padrões internacionais como os padrões GRI (Global Reporting Initiative) e inserindo as ações ESG, metas e resultados.
- Auditar externamente o relatório de sustentabilidade.
- Inserir certificações e selos que atuem para dar orientação e credibilidade às ações de ESG realizadas pela organização.
- Fazer parte de uma rede virtuosa, auxiliando o amadurecimento das cadeias produtivas capazes de abastecer as demandas ESG.
- Estar compromissado e ser signatário de Organizações como Rede Pacto Global Brasil, ONU Mulheres Brasil, Sistema B Brasil, entre outras.
As diretrizes ESG entram com vigor no mundo dos negócios no século XXI, provocando as organizações e seus stakeholders a assumirem seus preceitos e práticas, não de modo isolado e meramente estético, mas de modo autêntico, integrado à estratégia de negócios e ético, capaz de alicerçar reputações de organizações sólidas e parceiras das sociedades onde atuam.
O turismo está sendo chamado para assumir a sua parte em relação à agenda ESG e o World Economic Fórum publicou os “Ten Principles for Sustainable Destinations”, apontando princípios e ações necessárias para que stakeholders possam acelerar essa agenda e, para isso, já fizeram a paridade com os ODS da Agenda 2030. Os dez princípios são:
1. Certificar e monitorar cientificamente.
2. Cultivar a força de trabalho.
3. Priorizar comunidades.
4. Alinhar com visitantes.
5. Proteger o patrimônio.
6. Proteger a natureza.
7. Produzir e consumir com responsabilidade.
8. Calibrar infraestrutura.
9. Governança com eficiência.
10. Incorporar resiliência.
O documento indica que é necessário profissionalizar a gestão e engajar todos nessa jornada de mudanças consideráveis no turismo. Os princípios reforçam a necessidade dos negócios estarem alinhados com a agenda de sustentabilidade.
No mercado de eventos e viagens corporativas, há temas essenciais que devem ser tracionados nessa agenda.
TEMAS ESSENCIAIS EM VIAGENS E EVENTOS CORPORATIVOS
- Proteção da biodiversidade e dos ecossistemas naturais impactados pelos negócios.
- Redução das emissões de gases de efeito estufa.
- Relacionamento com as comunidades onde atuam (local e de destino).
- Diversidade, inclusão: representação nos públicos internos e externos (exemplo: cotas para representação da diversidade em bandas, palestras, fornecedores).
- Acessibilidade: adoção de procedimentos nos eventos e viagens para pessoas com deficiência, bem como a comunicação em ambientes virtuais (sites, blogs entre outros).
- Formação da força de trabalho e cadeia produtiva: oferta de treinamentos para qualificação da força de trabalho e dos fornecedores em uma iniciativa de coalizão com parceiros.
- Relacionamento de parceria com governos locais e de destino: transparência e competitividade.
- Atenção à segurança alimentar: gestão dos alimentos com uso racional, descarte correto dos alimentos e reduzir o desperdício.
- Busca pelo Lixo Zero.
- Envolvimento com a comunidade na produção de eventos a partir da capacidade produtiva e da cultura local.
- Priorização de espaços para eventos, locais, hospedagens e meios de transporte que sigam as orientações ESG.
Vale a ressalva: cada organização do mercado de eventos e viagens corporativos terá um movimento e estágio diferente em relação a ESG, desde práticas mais básicas, até as mais sofisticadas, no entanto, o mais importante é estar no caminho!
O mercado de eventos e viagens corporativas aceitou essa provocação e já apresentam boas práticas e ideias nessa direção. Conheça algumas delas neste manual.